O cinzento que me cobre é o que de mais cor-de-rosa ilumina a vida de alguns seres. Mas mesmo isso não me impede de sentir tristeza quando sinto o desprezo de um amigo ou de lágrimas derramar quando exprimento mais uma desilusão do Ser Humanos.
Uma voz tinha-me segredado algumas palavras um dia antes. Uma voz vinda dos céus . . . do passado . . ao meu ouvido baixinho tinha dito " cuidado com o sonho". Apesar da voz reconhecer e de um sorriso esboçar deixas as palavras cair no vazio e no sonho acreditei.
Uma mesma faca espetada com mais requinte e delicadeza mordaz ou um novo artefacto aguçado de uma forma um tanto premeditada? Há palavras, gestos . . .ou melhor a falta de palavras e gestos funcionam como facas capazes de acabar com uma vida sem que quem ao lado dela passe sinta o minímo dos salpicos.
Um dia de sonho, de desejos amplamente guardados, um dia planeado . . . apenas isso foi o necessário para . . . para que num instante como aquele que rouba o Sol do seu momento mais belo (o pôr do sol) . . . um instante para que a realidade caísse em mim. . .
Cada segundo, minuto, hora era sentido e vivido com uma estranheza . . . não era ali que deveria de estar. Sentada na beira do abismo olhando o horizonte vazio de vida . . . sentada na porta da vida e da morte, no limbo a uma escassa distância do arrebatamento . . . de braços abertos, de peito livre de olhos cerrados á espera do abraço violentamente envolvente que dali me levasse por uma vez mais para nunca mais voltar . . .
A noite caiu por fim e o corpo cansado e fustigado do frio e do vento começou a reclamar. Rendida entrei no carro e regressei para o conforto de todas as noites, para abraço sem vida que sempre me recebeu - o meu.
Passos confiantes. . . balançar de desejo. . . roupa de uma confiança provocante. . . sorriso de malícia inocente. . . perfume produzido pela sensualidade da pele. . . era assim que aquela noite começava quando da porta saí acompanhada apenas pelo barulhinho provocante dos saltos altos na calçada tipicamente portuguesa . . . um encontro com o desconhecido de uma noite fria do Inverno. . . Em busca de um Amor?! de uma Paixão?! em busca daquele arrepiar na espinha. . . daquela explosão de sentidos, do frenesim do corpo com a música certa a conduzir o caminho a cidade atravessei por ruas nunca antes vistas . . . a minha pele exalava um perfume de sensualidade provocante capaz de atrair até o mais distraído e frio dos homens . . .Parei e subi. . .aquela porta guardava o desejo, uma loucura de sentidos. . . de palavras . . . de actos. . . uma loucura . . .